terça-feira, 8 de novembro de 2011

Vamos falar do Ciúme…

O ciúme define-se como uma forma humana geral de
vivenciar e de agir perante uma relação de desejo que se percebe em perigo (Vieira, 1984). É esta angústia gerada pelo medo de perder o “objecto” amado que está na génese do ciúme.
A lógica passional do ciumento (delirante) parte sempre da dúvida, mas não admite o “benefício da dúvida”. Para o ciumento o acreditar e o saber são similares: acredita antes de saber e só procura demonstrar aquilo em que já acredita.
Quando o Sujeito não encontra provas, a ausência de comprovação, vem acentuar as suas crenças em vez de dissuadi-las. A má fé, o calculismo, a culpa imputada ao Objecto, fazem com que o ciumento pratique, constantemente, uma análise pormenorizada, procurando sempre encontrar sinais (não os necessários, mas apenas os suficientes), para objectivar a “sua” verdade. O “delirante de ciúme”selecciona e interpreta tendencialmente a informação e submete-a ao seu pré-conceito, onde não existe o acaso. A própria memória é subjugada ao ditame passional e percorrida atentamente, mas falsificada. Todos os pensamentos e memórias reconduzem o “doente de ciúme” ao sofrimento. Este vive, assim, entre trabalhos contínuos, num estado de hiper-vigilância selectiva, imersa num ponto da relação amorosa. As questões que o delirante de ciúme põe/se põe contém, já implícitas, as respostas e aguarda como se desejasse arduamente confirmaraquilo que mais teme (Vieira, 1984).
É preciso ainda perceber que para algumas pessoas o ciúme é compreendido como prova de amor, como o tempero da relação. Mas como qualquer tempero, se colocado em excesso, não tempera, maltrata (Barroso, 2007).
Revestido ou não de carácter patológico, justificado ou não pelos comportamentos do parceiro, o ciúme constitui uma das principais causas da violência nas relações amorosas.
Como descreve Montaigne: De todas as enfermidades que acometem o espírito, o ciúme é aquela à qual tudo serve de alimento e nada serve de remédio.